quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Cesar Cielo, um novo herói brasileiro

Não sou cientista político, nem sociólogo, nem psicólogo. Sou jornalista e sei muito pouco sobre como as pessoas de uma nação pensam. O que me intriga é porque Cesar Cielo é talvez o próximo herói brasileiro? O que ele tem de especial para ser colocado nesse patamar e ser comparado com os maiores nadadores de toda a história?

Ele ganhou a primeira medalha de ouro do Brasil na natação nas últimas olimpíadas. Outras duas no mundial, inclusive com um recorde mundial. Após muita exposição na mídia é natural que ele fique conhecido por todo o Brasil.

Esse é o pensamento mais lógico e mais óbvio. Cielo ganhou, é um campeão e a mídia aproveita para fazer matérias destacando tudo o que envolve a conquista de suas medalhas. Em primeira vista isso tudo está certo e é por isso que Cielo é um novo herói.

Eu concordo, porém acho que existem outras explicações. Cesar Cielo é o Cesão, um nadador muito parecido com muitos brasileiros. Não digo fisicamente, pois com a altura que tem, olhos claros e cabelos loiros, ele bem que poderia se passar por estrangeiro em terra tropicais.

O Cesão é um novo herói por uma razão. Sua família! Exatamente, Cesar Augusto Cielo e a dona Flávia de Brito Lyra Cielo, além é claro de sua irmã Fernanda. Todos residentes em Santa Bárbaro do Oeste, cidade pequena do interior Paulista. Cesão é filho de médico e de uma professora de educação física. Pessoas que demonstram em cada entrevista que são extremamente simples, apesar de muito instruídas.

Nas reportagens que pipocam todos os dias sua família sempre é citada. Seja pelas dificuldades que passaram até que Cesar Cielo alcançasse o sucesso ou para contar histórias de sua infância. Tudo contado de uma forma muito clara, até mesmo simplória, mas que faz com que o Brasil, que é composto basicamente de pessoas simples, consiga entender a mensagem. Cesar Cielo é um homem comum, com talento, que lutou, teve apoio dos pais e venceu na vida.

Cesar Cielo não deve nada para ninguém. Logicamente muitos técnicos e amigos o incentivaram durante toda sua carreira, mas se não fosse principalmente por sua família ele não estaria onde está.

A Cielomania que começou após Pequim ganhou força, muita força com essas novas conquistas. A mídia já conhece a família Cielo e todo esse bafafá ainda vai durar. Isso é ótimo, tanto para Cielo conseguir apoios, quanto para a natação brasileira. O número de crianças matriculadas na natação cresceu nos últimos dias. A tendência é aumentar ainda mais, em todo o Brasil.

As crianças que hoje sonham ser Cielos da vida amanhã talvez sejam Josés, Pedros, etc. Campeões olímpicos e exemplos para toda uma nação. Ou simplesmente adultos saudáveis, que aprenderam a nadar, a competir, a perder. Enfim, todas as lições que a natação ensina.

Eu me lembro muito bem de minha primeira competição de natação. Tinha uns 10, 11 anos e fazia aulas em uma escolinha. Fui nadar os 100m livre em piscina de 25 metros. Ao meu lado um garoto com toda pinta de nadador. Entrei na água e nadei uns 75 metros. Na última virada, que na época era segurada na borda, estava um pouco à frente desse outro garoto. Já estava muito cansado, mas na cabeça comecei a pensar: “Vai Marcelo, que nem Gustavo Borges! Que nem Gustavo Borges!”. E eu fui... até o final da prova repetindo isso na cabeça. Cheguei em segundo, pois lá do outro lado da piscina um garoto estava bem na frente e eu nem vi. No entanto, guardo essa medalha com muito carinho até hoje.

Sou fruto da geração de nadadores que assistiram o Gustavo Borges nadar. Daqui alguns anos algumas das crianças que hoje estão vendo o Cesão escrevam da mesma forma. Quando eu era pequeno tinha um nadador, o nome dele era Cielo, ele tinha uma família que estava sempre com ele e ganhava medalhas de ouro batendo recordes mundiais...

Um comentário:

  1. Marcelo parabéns pelo lindo texto, me emocionei.
    Não sou nadadora, mas sou fã de natação por causa de...Gustavo Borges. A minha primeira imagem olímpica é justamente Gustavo e o drama da medalha de prata em Barcelona 92, depois dessa olimpiada não parei de acompanhar.
    Tenho certeza que daqui a alguns anos veremos, assim como hj Cesão fala da inspiração em Gustavo Borges, garotos darão entrevistas e dirão: meu ídolo na natação era César Cielo.

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