terça-feira, 30 de junho de 2009

Histórias do nosso ouro olímpico!

Quando penso ou falo “ouro olímpico” tenho a sensação de que realmente ele é nosso, de todo o Brasil, e não somente de Cesar Cielo. O Brasil é um país carente de heróis e com exceção do futebol também é carente de campões. Penso que todos os apaixonados por natação sentem o mesmo. Quem teve o prazer de assistir a prova dos 50m livre nas olimpíadas de Pequim e comemorou como louco nossa primeira medalha de ouro na natação sabe do que eu estou falando.

Após as olimpíadas Cesar Cielo teve uma grande exposição na mídia. Foram muitas as reportagens e os programas de televisão do qual participou e comentou da sua preparação para os jogos. Ontem estava assistindo alguns vídeos do site Floswimming e me deparei com alguns detalhes dos quais eu nunca tinha ouvido falar. A equipe do site foi até a universidade de Auburn, onde Cielo treina para gravar uma série de entrevistas com o treinador australiano Brett Hawke, responsável pela preparação do Cesão.

Uma das histórias que Hawke conta é que antes dos jogos sua preocupação era deixar o nadador pronto para tudo o que iria acontecer em Pequim. É certo que Cesar Cielo já participou de grandes campeonatos, do NCAA, bateu recordes e tudo mais, porém nunca havia participado de algo como as Olimpíadas. Dessa forma a preparação que faltava era mais metal do que física. Na parte física ele já sabia que Cesar tinha feito todo o necessário, passado por um longo e difícil treinamento, o que iria fazer a diferença era a preparação mental.

Algumas semanas antes dos jogos Brett Hawke decidiu que Cesar Cielo iria começar a caminhar. Hawke já participou de duas olimpíadas como nadador pela Austrália e sabia que em uma vila olímpica tudo é longe e além das provas os nadadores precisam andar bastante! O treinador conta que às vezes Cesar reclamava e dizia que suas pernas precisavam de descanso. Ainda assim eles colocaram as caminhadas dentro da preparação. No final das contas eles nem precisaram andar tanto, mas mentalmente o Cesão já estava sendo preparado para o que iria encontrar e era justamente esse o objetivo de Hawke.

Outro fato bem pouco contado e que dá origem ao nome do filme “What goes around comes around” (Tudo que vai volta, em tradução livre) é um episódio que aconteceu na preparação da seleção brasileira poucas semanas antes dos jogos. Cesar Cielo e toda a delegação incluindo o treinador Brett Hawke estiveram em Macau para a aclimatação.

Em um dos dias Hawke disse a Cesar que eles iriam sair. Pegaram um taxi e pediram ao taxista que os levasse à rua mais movimentada da cidade. Isso mesmo, onde houvesse mais pessoas andando, trombando, onde estivesse quente e Cesar se sentisse suado e desconfortável. Segundo o treinado estar em uma olimpíada é como estar em uma rua dessas. Pessoas por todos os lados, várias pedindo autógrafos e tirando fotos, trombando nele! Ele estava tentando preparar o nosso então futuro campeão para enfrentar também esse lado dos jogos.

No dia dessa caminhada Hawke disse a Cesar que trouxesse uma nota de 100 dólares. O que ele queria é que Cesar Cielo desse esses 100 dólares para a pessoa mais pobre que ele encontrasse. Brett disse que “tudo o que vai volta”, assim isso poderia trazer coisas boas para eles. Eles andaram um bom tempo e não conseguiam achar nenhum pedinte. Exatamente, não achavam ninguém pobre que realmente precisasse. Até que Hawke decidiu deixar de lado a idéia e voltar para a concentração. Quando estavam quase entrando no taxi viram um homem sem camisa, só de bermuda, magro que de dar dó e sem dentes na boca. Sem dúvida era esse o homem... Cesão foi ate ele e deu o dinheiro que havia trazido. Na volta no taxi Hawke conta que ele e Cesar vieram conversando sobre o que haviam acabado de fazer e como estavam se sentindo bem com aquilo.

Não entro no mérito se esse tipo de atitude realmente ajudou aquele homem. Talvez sim talvez não, não temos como saber. Espero do fundo do coração que sim. Mas a intenção de Cielo e do seu treinador foi boa, está certo que o objetivo era que isso “voltasse” para eles em forma de uma medalha, mas como parte de uma preparação de um atleta foi uma boa idéia. Se foi ou não a melhor atitude isso é uma outra conversa e não vou entrar neste mérito.

Voltando ao início, essa medalha encheu a natação do Brasil de orgulho e todas essas histórias contribuem para que no futuro possamos contar a história do primeiro ouro olímpico da natação com muito mais tempero.

"What goes around comes around" - Fonte: www.Floswimming.org


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