Segue um texto publicado no site da Best swimming sobre a celeuma dos trajes de alto rendimento na natação. Acho que o texto fala muito do que todos os amantes da natação estão sentindo. Vale a pena ler.
O princípio básico do esporte são as condições de igualdade entre todos os participantes. A essência, a origem, desde os primórdios sempre foi essa. É no esporte onde os nobres e plebeus sempre se igualaram na busca de provar quem é o melhor. E sempre dentro das regras do jogo em disputa.
Estas regras que normatizam o esporte, dão a garantia a que todos na prática terão as mesmas condições. O doping veio numa busca de performance contra estas regras e sua proibição e controle faz parte da manutenção do espírito de igualdade entre os participantes.
A nova geração dos trajes é uma violenta aberração contra essa igualdade. Trajes que fazem a diferença na performance afetam diretamente o nosso esporte.
Não há como comparar os trajes com a barra de fibra de carbono do salto com vara. Esta é para todos, onde qualquer um pode acessar. Os trajes são limitados, escondidos até as vésperas dos eventos, disponíveis sempre para os atletas patrocinados, e de difícil acesso a população.
Qualquer um que esteja lendo este artigo agora. Tente comprar um X-Glide da Arena. Tente comprar um Blueseventy, um LZR, um Jaked. Qualquer um, e confirme de que tais produtos não estão disponíveis no mercado. Veja o quanto é difícil ter acesso e, principalmente, o quanto é caro poder ter um traje destes. O tal super traje de Ian Thorpe nunca foi colocado a venda. Era uma exclusividade dele. E isso não é justo.
O esporte evolui, claro que evolui. Para isso nós temos a piscina com raias anti-marolas controlando os efeitos de turbulência que afetam a todos na piscina. Os blocos de partida também evoluíram, e a FINA foi consciente suficiente para não colocar em disputa já que nem todo mundo teve acesso aos novos modelos da Omega.
Consciência esta que faltou na análise dos trajes. Todos agora estão desesperados. A FINA que sabe e reconhece que o esporte está afetado. As empresas que fizeram o investimento e estão preocupadíssimas com qualquer proibição a um de seus produtos. Os técnicos e atletas, estes sim os maiores prejudicados, estão a mercê desta briga de mercado que não coloca os melhores atletas no pódium, e sim aqueles que possuem o melhor traje.
Não há como não negar a influência disso tudo. Toda semana é um campeonato nacional diferente onde tempos incríveis aparecem, melhoras substanciais e uma injustiça a mais adicionada no esporte.
Eu sei que a minha campanha de maiô e sunga não é a solução. É apenas uma forma de expressar a revolta contra algo que não está acrescentando ao esporte. Lembro de uma conversa que tive em julho do ano passado com o técnico irlandês Peter Banks (ex-técnico de Brooke Benett). Conversávamos a borda da piscina durante o US Open uma semana antes de Beijing. E Peter mencionava para mim que o futuro seria termos dois campeonatos, um com os trajes e o outro todo mundo pelado, sendo que neste homens e mulheres teriam de ser separados em duas competições diferentes.
Brincadeira a parte, estes dias pensei em outra opção. Teríamos o Campeonato da Arena, onde a empresa bancaria tudo, os melhores atletas, todos lá perfilados e todos vestindo o X-Glide. Na outra semana a Copa Speedo e todo mundo de LZR. O circuito seguiria pela Copa Blueseventy e a Super Copa Jaked. Todos vestindo o mesmo traje, todos em igualdade na busca dos melhores tempos.
Nada disso vai acontecer... Vamos para um Troféu Maria Lenk onde antes das provas vamos ter os atletas um olhando para os outros, conferindo que traje estão usando, checando se alguém tem traje duplo ou triplo. Um espião de cada grande clube estará no banco de controle checando tudo, talvez até fotografando para provar que todos somos desleais e sempre em busca da Lei de Gerson.
Desculpa amigos, não é este o esporte que eu gosto. Estarei no Rio para ver o que acho que pode ser o melhor Troféu Maria Lenk de todos os tempos, mas não gostaria de que nada disso estivesse sendo discutido.
A FINA deve imediatamente anunciar quais são os trajes que fazem diferença e tirar do mercado, doa a quem doer, eliminar todos os produtos que representem vantagem e manter apenas os que não tiverem qualquer efeito. Nosso esporte está, pór incrível que pareça, se afogando.
Alex Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc.
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